Doença Renal Crônica

Você já ouviu falar em doença renal crônica (DRC)?

Ela é silenciosa, comum e, muitas vezes, descoberta tarde demais. Mas com informação e acompanhamento, é possível diagnosticar cedo e cuidar bem — preservando a função dos rins e a qualidade de vida.

Por que falar sobre isso importa tanto?

No Brasil, estima-se que quase 15 milhões de pessoas adultas tenham algum grau de DRC. É muita gente! E a maioria nem imagina que tem a doença, porque os rins conseguem “sofrer calados” por muito tempo antes de darem sinais claros.

A DRC costuma aparecer junto com outras condições que também são muito comuns — como hipertensão, diabetes e obesidade. Ou seja: cuidar dos rins é também cuidar do coração, da circulação e da saúde como um todo.

O que é, afinal, a Doença Renal Crônica (DRC)?

A DRC acontece quando os rins perdem parte da sua capacidade de filtrar o sangue e eliminar as impurezas do corpo. Para dizer que alguém tem DRC, é preciso que essa alteração dure mais de três meses, e pode ser detectada das seguintes formas:

  1. Pela queda da taxa de filtração glomerular (TFG) — um número calculado a partir da creatinina no sangue, que pode mostrar redução da filtração dos rins.
  2. Pela presença de alterações na urina (como proteína ou sangue).
  3. Ou em exame de imagem, mais comumente o ultrassom, que mostre que os rins estão diferentes do normal.

Os rins ficam “sobrecarregados” e vão perdendo força aos poucos. É uma perda geralmente progressiva e irreversível, mas o ritmo dessa perda pode (e deve!) ser controlado.

Quem tem mais risco de desenvolver DRC?

Alguns grupos merecem atenção especial:

  • Pessoas com diabetes ou hipertensão arterial;
  • Aqueles com histórico familiar de doença renal;
  • Pessoas com doenças autoimunes (como lúpus);
  • Quem usa anti-inflamatórios com frequência;
  • Fumantes e pessoas com obesidade;
  • Idosos, pois a função renal naturalmente diminui com o passar dos anos.

Por isso, mesmo quem se sente bem deve fazer exames de rotina, como creatinina e exame de urina, especialmente se tiver algum desses fatores de risco.

Sinais que merecem atenção

A DRC muitas vezes não dá sintomas no início. Mas, com o tempo, o corpo começa a dar recados:

  • Inchaço nas pernas e tornozelos;
  • Urina espumosa ou com aparência diferente;
  • Cansaço e fraqueza;
  • Pressão alta difícil de controlar;
  • Perda de apetite ou náuseas;
  • Alterações no sono ou concentração.

Esses sintomas não são exclusivos da DRC — por isso, o diagnóstico depende sempre de exames e avaliação especializada.

Como é feito o diagnóstico?

O principal exame é o de sangue para medir a creatinina, que permite estimar a taxa de filtração glomerular (TFG). Além disso, o médico pode pedir exame de urina para ver se há proteína (albumina), sangue ou outras alterações. Também é necessário fazer ultrassom dos rins para avaliar o tamanho e a estrutura renais.

Os exames de sangue e de urina devem ser repetidos com um intervalo de pelo menos três meses, para confirmar que a alteração é realmente crônica. Às vezes, só pela alteração no ultrassom já é possível dar o diagnóstico.

Os estágios da DRC

A DRC é dividida em estágios, conforme a TFG (quanto menor, mais avançada a doença) e a quantidade de proteína na urina. Nos estágios iniciais, a pessoa na maioria das vezes não sente nada. Já nos mais avançados, o corpo começa a reter líquidos, acumular toxinas e ter complicações como anemia, alterações ósseas, acidez no sangue e maior risco cardiovascular.

Mas a boa notícia é: quanto mais cedo for descoberta, mais tempo os rins podem ser preservados!

Como cuidar e retardar a progressão?

O tratamento da DRC é chamado de manejo conservador — e o objetivo é retardar a evolução da doença e prevenir complicações. O plano é sempre individualizado, mas alguns pilares são fundamentais:

1. Controlar a pressão arterial

A pressão alta é tanto causa quanto consequência da DRC. Manter a pressão abaixo de 120/80 mmHg é importante para proteção cardiovascular (embora seja necessário avaliar a tolerância desse alvo de pressão caso a caso).

Os medicamentos mais usados são os inibidores da ECA (como captopril, enalapril, perindopril, e outros “pril”) ou bloqueadores dos receptores de angiotensina (como losartana, olmesartana, telmisartana, e outros “tan”), que além de baixar a pressão protegem os rins.

2. Cuidar da alimentação

A alimentação faz toda a diferença!

  • Reduzir o sal (menos de 5g por dia);
  • Ter ingesta adequada de proteína (nem de menos, nem de mais);
  • Controlar potássio e fósforo em fases mais avançadas;
  • Contar com o apoio de um nutricionista especializado, importante para não restringir o que não precisa e entender melhor o que deve ser evitado.
3. Adotar hábitos saudáveis

Praticar atividade física regular (pelo menos 150 minutos por semana), não fumar e evitar o uso de anti-inflamatórios não hormonais (como diclofenaco, ibuprofeno, nimesulida, meloxicam, etc.) são atitudes que fazem diferença!

4. Controlar a glicemia

Para quem tem diabetes, o controle do açúcar no sangue é essencial. Medicamentos como metformina, inibidores de SGLT2 (as “glifozinas”) e agonistas de GLP1 (as “glutidas”) têm se mostrado eficazes não só para o diabetes, mas também na proteção dos rins e do coração.

No entanto, os remédios do diabetes muitas vezes precisam de ajuste de dose em quem tem DRC, podendo até ser suspensos em alguns casos devido ao risco de hipoglicemia e outros efeitos colaterais. Cada paciente é único, e a avaliação médica especializada indicará o melhor medicamento e dose para cada estágio da DRC.

Quando procurar um nefrologista

Nem sempre o acompanhamento precisa ser imediato, mas é importante não esperar demais. De modo geral, recomenda-se procurar o especialista se:

  • A TFG estiver abaixo de 45 ml/min/1,73m²;
  • Houver perda de proteína na urina;
  • Houver complicações relacionadas à DRC, como anemia, alterações ósseas e acidose;
  • Ou se houver queda rápida da função renal, mesmo com o tratamento correto.

O nefrologista vai ajustar as medicações, orientar a dieta, indicar vacinas e preparar o paciente para as próximas etapas — com o objetivo de preservar o rim o máximo possível.

Cuidar dos rins é cuidar da vida!

A DRC pode assustar, mas informação é o primeiro passo para o controle. A boa notícia é que hoje temos muitas opções de tratamento e acompanhamento. E, quanto antes o problema for identificado, maior a chance de estabilizar a função dos rins e evitar a diálise, que é quando os rins precisam ser substituídos por uma máquina.

Cuidar dos rins é, acima de tudo, um ato de amor próprio — e também um cuidado com o futuro, com a família e com a qualidade de vida.

E é para lhe ajudar nesse processo que estarei aqui, junto com você!

Dra. Fabiana Bonato
Nefrologista – CRM 46974