
Ela é silenciosa, comum e, muitas vezes, descoberta tarde demais. Mas com informação e acompanhamento, é possível diagnosticar cedo e cuidar bem — preservando a função dos rins e a qualidade de vida.
No Brasil, estima-se que quase 15 milhões de pessoas adultas tenham algum grau de DRC. É muita gente! E a maioria nem imagina que tem a doença, porque os rins conseguem “sofrer calados” por muito tempo antes de darem sinais claros.
A DRC costuma aparecer junto com outras condições que também são muito comuns — como hipertensão, diabetes e obesidade. Ou seja: cuidar dos rins é também cuidar do coração, da circulação e da saúde como um todo.
A DRC acontece quando os rins perdem parte da sua capacidade de filtrar o sangue e eliminar as impurezas do corpo. Para dizer que alguém tem DRC, é preciso que essa alteração dure mais de três meses, e pode ser detectada das seguintes formas:
Os rins ficam “sobrecarregados” e vão perdendo força aos poucos. É uma perda geralmente progressiva e irreversível, mas o ritmo dessa perda pode (e deve!) ser controlado.
Alguns grupos merecem atenção especial:
Por isso, mesmo quem se sente bem deve fazer exames de rotina, como creatinina e exame de urina, especialmente se tiver algum desses fatores de risco.
A DRC muitas vezes não dá sintomas no início. Mas, com o tempo, o corpo começa a dar recados:
Esses sintomas não são exclusivos da DRC — por isso, o diagnóstico depende sempre de exames e avaliação especializada.
O principal exame é o de sangue para medir a creatinina, que permite estimar a taxa de filtração glomerular (TFG). Além disso, o médico pode pedir exame de urina para ver se há proteína (albumina), sangue ou outras alterações. Também é necessário fazer ultrassom dos rins para avaliar o tamanho e a estrutura renais.
Os exames de sangue e de urina devem ser repetidos com um intervalo de pelo menos três meses, para confirmar que a alteração é realmente crônica. Às vezes, só pela alteração no ultrassom já é possível dar o diagnóstico.
A DRC é dividida em estágios, conforme a TFG (quanto menor, mais avançada a doença) e a quantidade de proteína na urina. Nos estágios iniciais, a pessoa na maioria das vezes não sente nada. Já nos mais avançados, o corpo começa a reter líquidos, acumular toxinas e ter complicações como anemia, alterações ósseas, acidez no sangue e maior risco cardiovascular.
Mas a boa notícia é: quanto mais cedo for descoberta, mais tempo os rins podem ser preservados!
O tratamento da DRC é chamado de manejo conservador — e o objetivo é retardar a evolução da doença e prevenir complicações. O plano é sempre individualizado, mas alguns pilares são fundamentais:
A pressão alta é tanto causa quanto consequência da DRC. Manter a pressão abaixo de 120/80 mmHg é importante para proteção cardiovascular (embora seja necessário avaliar a tolerância desse alvo de pressão caso a caso).
Os medicamentos mais usados são os inibidores da ECA (como captopril, enalapril, perindopril, e outros “pril”) ou bloqueadores dos receptores de angiotensina (como losartana, olmesartana, telmisartana, e outros “tan”), que além de baixar a pressão protegem os rins.
A alimentação faz toda a diferença!
Praticar atividade física regular (pelo menos 150 minutos por semana), não fumar e evitar o uso de anti-inflamatórios não hormonais (como diclofenaco, ibuprofeno, nimesulida, meloxicam, etc.) são atitudes que fazem diferença!
Para quem tem diabetes, o controle do açúcar no sangue é essencial. Medicamentos como metformina, inibidores de SGLT2 (as “glifozinas”) e agonistas de GLP1 (as “glutidas”) têm se mostrado eficazes não só para o diabetes, mas também na proteção dos rins e do coração.
No entanto, os remédios do diabetes muitas vezes precisam de ajuste de dose em quem tem DRC, podendo até ser suspensos em alguns casos devido ao risco de hipoglicemia e outros efeitos colaterais. Cada paciente é único, e a avaliação médica especializada indicará o melhor medicamento e dose para cada estágio da DRC.
Nem sempre o acompanhamento precisa ser imediato, mas é importante não esperar demais. De modo geral, recomenda-se procurar o especialista se:
O nefrologista vai ajustar as medicações, orientar a dieta, indicar vacinas e preparar o paciente para as próximas etapas — com o objetivo de preservar o rim o máximo possível.
A DRC pode assustar, mas informação é o primeiro passo para o controle. A boa notícia é que hoje temos muitas opções de tratamento e acompanhamento. E, quanto antes o problema for identificado, maior a chance de estabilizar a função dos rins e evitar a diálise, que é quando os rins precisam ser substituídos por uma máquina.
Cuidar dos rins é, acima de tudo, um ato de amor próprio — e também um cuidado com o futuro, com a família e com a qualidade de vida.
E é para lhe ajudar nesse processo que estarei aqui, junto com você!
Dra. Fabiana Bonato
Nefrologista – CRM 46974