Doença Renal Crônica

Doença Renal Crônica 29 de outubro de 2025 Você já ouviu falar em doença renal crônica (DRC)? Ela é silenciosa, comum e, muitas vezes, descoberta tarde demais. Mas com informação e acompanhamento, é possível diagnosticar cedo e cuidar bem — preservando a função dos rins e a qualidade de vida. Por que falar sobre isso importa tanto? No Brasil, estima-se que quase 15 milhões de pessoas adultas tenham algum grau de DRC. É muita gente! E a maioria nem imagina que tem a doença, porque os rins conseguem “sofrer calados” por muito tempo antes de darem sinais claros. A DRC costuma aparecer junto com outras condições que também são muito comuns — como hipertensão, diabetes e obesidade. Ou seja: cuidar dos rins é também cuidar do coração, da circulação e da saúde como um todo. O que é, afinal, a Doença Renal Crônica (DRC)? A DRC acontece quando os rins perdem parte da sua capacidade de filtrar o sangue e eliminar as impurezas do corpo. Para dizer que alguém tem DRC, é preciso que essa alteração dure mais de três meses, e pode ser detectada das seguintes formas: Pela queda da taxa de filtração glomerular (TFG) — um número calculado a partir da creatinina no sangue, que pode mostrar redução da filtração dos rins. Pela presença de alterações na urina (como proteína ou sangue). Ou em exame de imagem, mais comumente o ultrassom, que mostre que os rins estão diferentes do normal. Os rins ficam “sobrecarregados” e vão perdendo força aos poucos. É uma perda geralmente progressiva e irreversível, mas o ritmo dessa perda pode (e deve!) ser controlado. Quem tem mais risco de desenvolver DRC? Alguns grupos merecem atenção especial: Pessoas com diabetes ou hipertensão arterial; Aqueles com histórico familiar de doença renal; Pessoas com doenças autoimunes (como lúpus); Quem usa anti-inflamatórios com frequência; Fumantes e pessoas com obesidade; Idosos, pois a função renal naturalmente diminui com o passar dos anos. Por isso, mesmo quem se sente bem deve fazer exames de rotina, como creatinina e exame de urina, especialmente se tiver algum desses fatores de risco. Sinais que merecem atenção A DRC muitas vezes não dá sintomas no início. Mas, com o tempo, o corpo começa a dar recados: Inchaço nas pernas e tornozelos; Urina espumosa ou com aparência diferente; Cansaço e fraqueza; Pressão alta difícil de controlar; Perda de apetite ou náuseas; Alterações no sono ou concentração. Esses sintomas não são exclusivos da DRC — por isso, o diagnóstico depende sempre de exames e avaliação especializada. Como é feito o diagnóstico? O principal exame é o de sangue para medir a creatinina, que permite estimar a taxa de filtração glomerular (TFG). Além disso, o médico pode pedir exame de urina para ver se há proteína (albumina), sangue ou outras alterações. Também é necessário fazer ultrassom dos rins para avaliar o tamanho e a estrutura renais. Os exames de sangue e de urina devem ser repetidos com um intervalo de pelo menos três meses, para confirmar que a alteração é realmente crônica. Às vezes, só pela alteração no ultrassom já é possível dar o diagnóstico. Os estágios da DRC A DRC é dividida em estágios, conforme a TFG (quanto menor, mais avançada a doença) e a quantidade de proteína na urina. Nos estágios iniciais, a pessoa na maioria das vezes não sente nada. Já nos mais avançados, o corpo começa a reter líquidos, acumular toxinas e ter complicações como anemia, alterações ósseas, acidez no sangue e maior risco cardiovascular. Mas a boa notícia é: quanto mais cedo for descoberta, mais tempo os rins podem ser preservados! Como cuidar e retardar a progressão? O tratamento da DRC é chamado de manejo conservador — e o objetivo é retardar a evolução da doença e prevenir complicações. O plano é sempre individualizado, mas alguns pilares são fundamentais: 1. Controlar a pressão arterial A pressão alta é tanto causa quanto consequência da DRC. Manter a pressão abaixo de 120/80 mmHg é importante para proteção cardiovascular (embora seja necessário avaliar a tolerância desse alvo de pressão caso a caso). Os medicamentos mais usados são os inibidores da ECA (como captopril, enalapril, perindopril, e outros “pril”) ou bloqueadores dos receptores de angiotensina (como losartana, olmesartana, telmisartana, e outros “tan”), que além de baixar a pressão protegem os rins. 2. Cuidar da alimentação A alimentação faz toda a diferença! Reduzir o sal (menos de 5g por dia); Ter ingesta adequada de proteína (nem de menos, nem de mais); Controlar potássio e fósforo em fases mais avançadas; Contar com o apoio de um nutricionista especializado, importante para não restringir o que não precisa e entender melhor o que deve ser evitado. 3. Adotar hábitos saudáveis Praticar atividade física regular (pelo menos 150 minutos por semana), não fumar e evitar o uso de anti-inflamatórios não hormonais (como diclofenaco, ibuprofeno, nimesulida, meloxicam, etc.) são atitudes que fazem diferença! 4. Controlar a glicemia Para quem tem diabetes, o controle do açúcar no sangue é essencial. Medicamentos como metformina, inibidores de SGLT2 (as “glifozinas”) e agonistas de GLP1 (as “glutidas”) têm se mostrado eficazes não só para o diabetes, mas também na proteção dos rins e do coração. No entanto, os remédios do diabetes muitas vezes precisam de ajuste de dose em quem tem DRC, podendo até ser suspensos em alguns casos devido ao risco de hipoglicemia e outros efeitos colaterais. Cada paciente é único, e a avaliação médica especializada indicará o melhor medicamento e dose para cada estágio da DRC. Quando procurar um nefrologista Nem sempre o acompanhamento precisa ser imediato, mas é importante não esperar demais. De modo geral, recomenda-se procurar o especialista se: A TFG estiver abaixo de 45 ml/min/1,73m²; Houver perda de proteína na urina; Houver complicações relacionadas à DRC, como anemia, alterações ósseas e acidose; Ou se houver queda rápida da função renal, mesmo com o tratamento correto. O nefrologista vai ajustar as medicações, orientar a dieta, indicar vacinas e preparar o paciente para as próximas etapas — com o objetivo de preservar o

Cálculos Renais

Cálculos Renais 28 de outubro de 2025 Pedra nos rins: por que elas aparecem e como evitar Você já ouviu alguém dizer que teve uma “pedra nos rins”? Se sim, provavelmente também ouviu que é uma das piores dores da vida — e não é exagero! Dizem ser comparável à dor do parto. A cólica renal é intensa, vem de repente e não costuma melhorar com analgésicos orais, podendo levar qualquer um ao pronto-socorro para tomar remédio na veia. Mas afinal, o que são essas pedras, por que se formam e, principalmente, como podemos evitá-las? O que é a nefrolitíase Nefrolitíase é o nome médico para o famoso “cálculo renal”. Ele é formado quando sais e minerais da urina se juntam e criam cristais, como se o rim virasse um “laboratório de pedrinhas”. Esses cristais crescem, se unem e podem se soltar do rim, descendo pelo canal que leva a urina até a bexiga — o ureter. É aí que surge a dor: o cálculo tenta passar, mas o ureter reage, contraindo fortemente (daí a cólica!). A produção de urina não pára em um primeiro momento e os rins começam a ficar “dilatados”, o que também gera dor. Como é a dor da cólica renal? A dor aparece de repente, geralmente na região lombar, e pode irradiar para a barriga ou para a virilha. Ela vem em ondas, dura de 20 a 60 minutos, e pode vir acompanhada de enjoo, vômitos e suor frio. A pressão costuma subir na hora da dor e o coração fica acelerado. Muita gente também nota sangue na urina — um sinal bem comum. Quem tem mais risco de formar cálculos? A pedra nos rins é muito mais comum do que parece: Afeta até 15% da população; É mais frequente em homens, entre 30 e 40 anos; Quem já teve uma pedra tem grande chance de ter outra — quase metade das pessoas recidivam o cálculo em um período de 10 anos! Fatores que aumentam o risco: Beber pouca água Dieta rica em sal e proteína Obesidade e síndrome metabólica Alguns medicamentos Histórico familiar de cálculos Como o médico confirma o diagnóstico? O diagnóstico é feito com exames de imagem, que mostram o cálculo e sua localização: Ultrassom: simples e sem radiação — ótimo para começar; Tomografia sem contraste: o exame mais preciso; Raio-X: pode ajudar, mas nem sempre mostra todos os cálculos. Tratamento O tratamento depende do tamanho e da localização do cálculo: Pedras pequenas (<5 mm): costumam sair sozinhas com hidratação e analgésicos. Pedras médias (5–10 mm): às vezes precisam de medicamentos que “relaxam” o ureter, ajudando na eliminação. Pedras grandes (>10 mm): ou que causam “entupimento” exigem intervenção urológica — hoje com técnicas minimamente invasivas. Durante a crise, o foco é aliviar a dor com anti-inflamatórios e analgésicos. Atenção: não adianta exagerar na água durante a dor! Se o rim estiver “entupido”, isso pode piorar o desconforto. Depois da crise Depois que a pedra sai (ou é retirada), é importante investigar a causa. O médico pode pedir exames de urina de 24 horas e avaliações metabólicas para entender o motivo da formação dos cálculos e traçar uma estratégia de prevenção. Como prevenir novas pedras A boa notícia é que a maioria das pedras pode ser evitada! Basta adotar alguns hábitos simples: Beba bastante água — pelo menos 2,5 a 3 litros por dia (desde que não tenha problemas de coração, fígado ou doença renal crônica – nesses casos, consultar seu médico antes). Coma frutas e vegetais, especialmente cítricos (como limão, laranja). Não corte o cálcio da dieta: ao contrário do que possa parecer, reduzir o cálcio na alimentação pode até aumentar o risco de cálculos! O cálcio ajuda a evitar que o oxalato seja absorvido em excesso e eliminado na urina. Evite exagerar no sal e na proteína animal. Mantenha o peso saudável e pratique atividade física. Quando procurar um médico Procure atendimento rápido se tiver: Dor intensa nas costas ou abdome; Febre junto com a dor; Sangue na urina; Náuseas e vômitos que impedem de beber líquidos. Mitos e Verdades sobre Pedra nos Rins “Tomar leite causa pedra nos rins.” Mito! O cálcio do leite não causa pedra — ele ajuda a evitar! O que faz mal é o excesso de sal e proteína animal. “Tomate aumenta o risco de pedra nos rins.” Mito! Ele contém pequena quantidade de oxalato, mas não se compara com alimentos como espinafre, beterraba, nozes e chocolate, que são muito ricos em oxalato e devem ser evitados em quem tem cálculos com esse componente. “Cerveja ajuda a eliminar pedras.” Mito! O álcool desidrata e pode aumentar o ácido úrico, favorecendo a formação de cálculos. A ideia não é proibir que tome uma cerveja eventual, mas saber que ela não previne nem trata as pedrinhas. “Chá de quebra-pedra quebra mesmo as pedras?” Parcialmente verdade. O chá de Phyllanthus niruri pode ajudar na prevenção das pedras (aumentando o volume urinário e reduzindo a formação e agregação de cristais), mas não dissolve nem quebra cálculos. Se for usar, considere apenas como complemento às demais orientações médicas. “Beber muita água é o melhor jeito de evitar pedras.” Verdade absoluta! A hidratação dilui a urina e reduz a concentração dos sais — o passo mais importante para proteger seus rins. “Tomar muita água com gás causa pedra.” Mito! A água com gás não aumenta o risco de cálculos renais! Resumindo… A pedra nos rins é comum, dolorosa, mas prevenível. Beber água é o melhor remédio — simples, barato e eficaz. E se você já teve uma, não espere a próxima crise: procure um nefrologista para investigar e prevenir novas pedrinhas! Seus rins agradecem! Dra. Fabiana Bonato Nefrologista – CRM 46974 Post anterior

Infecção urinária

Infecção urinária: por que acontece e como evitar 28 de outubro de 2025 Quem nunca ouviu alguém dizer “tive uma infecção urinária” ou até mesmo passou por isso “na pele”?Ardência, vontade de urinar toda hora, aquele desconforto no “pé da barriga” que insiste em não passar… As infecções urinárias são muito comuns, especialmente entre as mulheres — e, apesar de geralmente não serem graves, podem causar bastante incômodo e piorar bastante a qualidade de vida. Vamos entender melhor o que acontece e como cuidar da melhor forma?   O que é uma infecção urinária? A infecção urinária é causada pela entrada de microrganismos — na maioria das vezes bactérias — no trato urinário, que vai desde a uretra (o canal da urina) até os rins.A bactéria Escherichia coli (E. coli), que normalmente vive no intestino, é a principal responsável. Ela pode migrar da região genital para o canal da urina e se multiplicar na bexiga, causando inflamação. Essa infecção pode se manifestar de diferentes formas, dependendo de onde está localizada: Cistite: é a infecção da bexiga, a forma mais comum. Pielonefrite: é a infecção que chega aos rins — mais séria, costuma causar febre e mal-estar.   Por que as mulheres têm mais infecção urinária? A anatomia feminina facilita o acesso das bactérias à bexiga: a uretra é mais curta e fica próxima à vagina e ao ânus.Além disso, alguns fatores aumentam o risco: atividade sexual, uso de espermicidas, menopausa (pela queda de estrogênio e atrofia vaginal), constipação intestinal, pouca ingestão de água, segurar a urina com frequência.   Homens também podem ter infecção urinária, mas é menos comum — e, quando acontece, geralmente há algum fator associado, como aumento da próstata, cálculo renal ou sonda uretral.   Sintomas mais comuns Os sinais clássicos da cistite incluem:   Quando há febre, dor nas costas e mal-estar, podemos estar diante de uma pielonefrite, que precisa de avaliação médica imediata. ardência ou dor ao urinar, vontade de urinar muitas vezes, mas em pequena quantidade, urgência para urinar (às vezes não dá tempo de chegar no banheiro), dor ou peso na parte baixa do abdome (abaixo do umbigo), urina com cheiro forte ou aspecto turvo. Bacteriúria assintomática: tratar ou não tratar? Às vezes o exame de urina mostra bactérias, mas a pessoa não sente nenhum sintoma. Isso é chamado de bacteriúria assintomática — e, na maioria dos casos, não precisa de antibiótico. As exceções são: gestantes, pessoas que vão passar por cirurgia urológica, pacientes transplantados renais nas primeiras semanas após o transplante pessoas que possuem “cálculos renais de infecção”. Em todos os outros casos, tratar sem sintomas pode causar mais prejuízos do que benefícios, principalmente aumentando a resistência das bactérias.   E quando a infecção volta várias vezes? Algumas pessoas têm infecções urinárias recorrentes, que se repetem várias vezes ao ano.Nessas situações, é importante investigar hábitos e fatores predisponentes, além de fazer exames de imagem, como o ultrassom. Entre as medidas que ajudam a reduzir as recidivas: beber bastante água, urinar sempre que sentir vontade, não reter a urina por longos períodos, urinar após a relação sexual, evitar produtos irritantes na região íntima (como duchas e sabonetes com perfume), tratar constipação intestinal, e, em mulheres na menopausa, considerar o uso de reposição hormonal vaginal, sob orientação médica. Em alguns casos, o médico pode recomendar o uso de antibióticos em baixa dose, o uso de suplementos como extrato de cranberry, ou vacinas orais (como o Uro-Vaxom®) para prevenir novos episódios.   Quando procurar o médico Sempre que houver sintomas urinários, é importante fazer uma avaliação — especialmente se for o primeiro episódio, se houver febre, dor lombar ou se os sintomas não melhorarem com medidas simples.O médico saberá indicar o exame adequado e o tratamento correto para o seu caso (lembrando que cada caso é um caso!).   Cuidar da saúde é fundamental e pequenas mudanças no dia a dia podem fazer toda a diferença!Manter uma boa hidratação, “ouvir” e sentir o que o corpo quer mostrar e não adiar o momento de procurar ajuda são passos simples, mas poderosos para evitar que a infecção urinária volte a incomodar.   Se precisar, conte comigo! Será um prazer cuidar de você.  Dra. Fabiana BonatoNefrologista – CRM 46974